segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sinta homem! Viva!


Como aqueles que imersos na escuridão noturna contam ovelhas gordas para adormecer, o rapaz andava lentamente sobre a areia ancestral contando seus passos, não para dormir, mas para acordar. Já entardecia, porém o sol ainda luzia soberbo e a areia febril queimava as solas dos pés daquele homem - não sei se devido aos resquícios dos seus vulcânicos antepassados ou se apenas por reflexo do astro loiro desejoso em chamar a atenção. O rapaz movia-se, tentava contar os passos, acordar para a vida, mas o calor o desconcentrava. Não percebia que contando pensava e que o que a natureza fazia era através das sensações tentar ajudá-lo. Pode-se até dormir movido pelas ovelhas, mas os sonhos cheirarão à pelego. Pode-se até acordar contando os passos, calculando o tempo, os sentimentos. Acorda-se. Não para a vida, mas para um segundo sono. Esquece os números, as contas, as letras. Sinta homem! Viva! Sinta o vento roçando-lhe a nuca. Sinta o som molhado das águas. Sinta a areia... pisando nela tu cavalga em dinossauros.