Tempo tempo, contemplo o tempo 
e quando tento entender, 
o tentar já é mais que intento, 
o vento já é mais que forte, 
o norte já é mais que um invento fosco e irracional, 
afinal... o que é do agora se em mim não mora a hora 
que gastei comigo, consigo e com qualquer outro quem, 
além d'um instante como um adorno na estante 
que com o passar se acostuma a não mais ver, 
e todo costume é só um azedume 
que faz do corpo imune às pancadas do viver. 
Para o raio o para-raio, 
para a chuva o guarda-chuva, 
e para o tempo? 
um para-tempo, um guarda-tempo, um contratempo? 
Contemplo o tempo, com calma, com tempo; 
e quando tento entender o tempo, 
o tentar já é mais que intento, 
o verbo já é mais que forte, 
e o norte?... 
o norte é o que desfaz a rima!

 
